"Saio à noite para caçar. Os tempos estão diferentes mas a fome continua igual. A imortalidade tem um preço e o meu pago-o todos dias, todas as noites em que sobrevivo de forma estranha, anti natura, obscurecida. Pois estou condenado a isto, a esta semi-existência. A esta vida de sombra e sangue. Semi-deus e semi-nada, abençoado com uma maldição.
Sou um predador, vivo no topo da cadeia alimentar. Sou dono da escuridão na noite que me abraça, aqui governo nas trevas de quem espera, no silêncio de quem aguarda, no meio do nevoeiro fino que me envolve como teias de aranha. Contudo... sinto-me tão vazio como os corpos que deixo, tão impotente como aqueles de quem me alimento.
Espero na esquina de sempre, com um ar sereno e calculista, olhar frio e fixo. As pessoas passam indistintas na multidão e eu predo atento aqueles que se destacam, os que ficam para trás na manada. Há sempre um mais fraco, tanta gente sem ânimo nem vontade, sem razões para viver. Esses são os mais fáceis, quase que se entregam de livre vontade à absorção mortal da minha faminta busca.
Prefiro esses, esses que não querem viver atenuam o meu dilema moral. Mato para viver sem estar sequer vivo. E nem sei se o quero estar. Não gosto de viver nesta imortalidade postiça, mas também tenho medo do nada para além disto que possa me esperar. Prefiro esses, sem duvida... já tenho tantos dilemas... sabem-me bem esses corpos mornos inanimados onde sorvo pausadamente o que resta das suas não-vidas, vidas inconsequentes de empregozinho insignificante, vidas tristes, vidas sozinhas... como os tempos mudam, a solidão é a doença deste século.
Eu também vivo só."
Sou um predador, vivo no topo da cadeia alimentar. Sou dono da escuridão na noite que me abraça, aqui governo nas trevas de quem espera, no silêncio de quem aguarda, no meio do nevoeiro fino que me envolve como teias de aranha. Contudo... sinto-me tão vazio como os corpos que deixo, tão impotente como aqueles de quem me alimento.
Espero na esquina de sempre, com um ar sereno e calculista, olhar frio e fixo. As pessoas passam indistintas na multidão e eu predo atento aqueles que se destacam, os que ficam para trás na manada. Há sempre um mais fraco, tanta gente sem ânimo nem vontade, sem razões para viver. Esses são os mais fáceis, quase que se entregam de livre vontade à absorção mortal da minha faminta busca.
Prefiro esses, esses que não querem viver atenuam o meu dilema moral. Mato para viver sem estar sequer vivo. E nem sei se o quero estar. Não gosto de viver nesta imortalidade postiça, mas também tenho medo do nada para além disto que possa me esperar. Prefiro esses, sem duvida... já tenho tantos dilemas... sabem-me bem esses corpos mornos inanimados onde sorvo pausadamente o que resta das suas não-vidas, vidas inconsequentes de empregozinho insignificante, vidas tristes, vidas sozinhas... como os tempos mudam, a solidão é a doença deste século.
Eu também vivo só."
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